Com três meses de atraso em relação ao prometido para novembro passado, o governo disparou hoje os anúncios sobre as taxas anuais de desmatamento na Caatinga. Pelos números oficiais, o único bioma 100% brasileiro perdeu 16,5 mil quilômetros quadrados de vegetação entre 2002 e 2008, ou cerca de 2% de sua cobertura original, que era de 826,4 mil quilômetros quadrados. O número pode estar superestimado em 4 mil quilômetros quadrados, admite o governo. Luz sobre a diferença apenas com novas avaliações. A média de perdas anuais para o período foi de 2,76 mil quilômetros quadrados (0,33% ao ano). O total de vegetação remanescete da Caatinga situa-se em torno de 53,6% da original, sendo que 55,6% haviam sido derrubados até 2002.
Se comparado ao da Amazônia, o desmate da Caatinga figura como de pequenas proporções, mas o bioma é cinco vezes menor que a floresta tropical ao norte do país. As emissões de Dióxido de Carbono (CO2) da Caatinga também preocupam, situando-se em torno de 25 milhões de toneladas anuais. A proteção do bioma deve integrar os planos nacionais sobre mudanças do clima, quando forem revisados.
As principais causas de desmatamento no passado foram a expansão de monoculturas de grãos e lavouras de árvores exóticas, agropecuária e produção de lenha e carvão. Algumas delas seguem vigorosas no últimos seis anos, mantendo um padrão de desmatamento extremamente pulverizado, sem frente definidas para as derrubadas, dificultando o combate ao desflorestamento ilegal.
Dos 16,5 mil quilômetros quadrados postos abaixo desde 2002, Bahia e Ceará respondem por mais da metade. A maioria dos municípios que concentram a degradação da Caatinga também está nesses estados. Alagoas, por exemplo, desmatou menos, mas só no último período. Antes de 2002, havia exaurido quase 80% de sua vegetação de Caatinga.
Os focos de desmatamento acompanham pólos produtores de gesso, cerâmica, biocombustível, agropecuária e extração de madeira para produção de lenha ou carvão. A lenha abastece populações e mercados locais. O carvão serve basicamente à siderurgia de Minas Gerais e outros estados. Gesso e cerâmicas também rompem as divisas estaduais do Nordeste. “Sem estimular alternativas energéticas, dificilmente se combaterá o desmatamento na Caatinga”, disse o ministro Carlos Minc.
A partir de amanhã (3), governadores de estados nordestinos, ministros, bancos públicos e outras entidades estarão reunidos em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) para discutir e apresentar medidas para combater à desertificação regional. Além das mazelas atuais, o Nordeste está na mira das mudanças do clima e pode perder um terço de sua economia até o fim do século, apontam estudos. O Ministério do Meio Ambiente espera reverter até 500 milhões anuais, metade do fundo nacional do clima, para auxiliar a região. O governo federal quer apresentar um plano de ação para a Caatinga até seu dia nacional, 28 de abril.
O Ibama já tem 25 ações planejadas para combater ilegalidades na Caatinga, região semiárida apontada por especialistas como a mais povoada e mais rica em espécies de animais e de plantas no planeta. O governo tem planos para ampliar ainda este ano a área oficialmente protegida no bioma, com unidades de conservação no Piauí, Bahia e Paraíba. Atualmente, cerca de 7% da Caatinga estão dentro de áreas protegidas federais e estaduais – mas apenas 2% em unidades de proteção integral, como parques nacionais. O índice é semelhante ao que o bioma perdeu em vegetação entre 2002 e 2008.
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