Reportagens

Menor tamanduá, já ameaçado

O tamanduaí sobrevive em matas brasileiras na Amazônia e na Mata Atlântica nordestina. Pesquisadores afirmam que seu desaparecimento é visível.

Aldem Bourscheit ·
8 de janeiro de 2010 · 15 anos atrás
O mamífero se mantém firme entre galhos e folhas. (Foto: Flávia Miranda)
O mamífero se mantém firme entre galhos e folhas. (Foto: Flávia Miranda)

Ele nem parece bicho de carne e osso, mas o diminuto e praticamente desconhecido tamanduaí sobrevive em matas brasileiras na Amazônia e na Mata Atlântica nordestina, locais onde raramente é avistado.

Com hábitos noturnos, cerca de 300 gramas, dez centímetros de corpo e até trinta se contada a cauda, a espécie (Cyclopes didactylus) é a menor das quatro que existem no mundo, três delas no Brasil.

No país, há registros do mamífero na região Norte e estados do Nordeste como Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Piauí e Maranhão, onde já está ameaçado pelo desmatamento e fragmentação das florestas. Assim como ocorre com o macaco-guigó, como mostrou O Eco em abril do ano passado.

As únicas baterias de estudos sobre o tamanduaí em liberdade avaliam a distribuição de populações na reserva biológica do rio Trombetas, no município paraense de Oriximiná, e também sua ocorrência e genética em matas nordestinas. O material é analisado na Universidade Federal de Minas Gerais. “As populações nordestina e amazônica estão separadas pela faixa de Caatinga entre os dois biomas”, explica a responsável técnica pelo projeto, Flávia Miranda, da Wildlife Conservation Society.


Vídeo: Flávia Miranda / Música: Tema em sete, do Uakti

Segundo a médica veterinária, que realiza doutorado pela Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), em até quatro anos será possível afirmar se os tamanduaís da Amazônia e da Mata Atlântica são espécies realmente diferentes. Os da região Norte apresentam pelagem mais escura. Já os hábitos alimentares de ambos os grupos são semelhantes a de seus parentes (quadro abaixo), os tamanduás bandeira, mirim e mexicano: formigas e cupins.

Flávia e outros três pesquisadores publicam este mês o primeiro artigo sobre os hábitos alimentares do tamanduaí.

Conforme ela, com mais apoio às pesquisas sobre a espécie será possível engrossar os dados sobre sua biologia, hábitos de vida e condições necessárias a sua sobrevivência. As informações poderão ser usadas para criar unidades de conservação ou adequar planos de manejo de áreas protegidas públicas ou privadas, melhor resguardando o animal.

Mesmo que o tamanduaí ainda não esteja oficialmente ameaçado de extinção, os pesquisadores afirmam que já é visível o desaparecimento de suas populações, basicamente pela acelerada destruição e fragmentação da Mata Atlântica nordestina. A situação crítica deve ser reconhecida pela União Internacional para Conservação da Natureza. O mesmo deve ocorrer no Brasil, se houver aval do governo.

“Um dos passos mais importantes é divulgar a espécie, ainda desconhecida no Brasil, mesmo por populações que vivem próximas a ela. Também precisamos de mais apoio para as pesquisas. Estamos em busca de parceiros”, disse Flávia.

A empreitada tem até agora apoio do Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil e da Fundação O Boticário.

Tamanduá-mirim
Tamandua tetradactyla
Tamanduá-bandeira
Myrmecophaga tridactyla
Tamanduá-mexicano
Tamandua mexicana
Foto: José Sabino Foto: bluemacaws.org Foto: http://fdelsuc.perso.neuf.fr
     Os parentes do tamanduaí


  • Aldem Bourscheit

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

Leia também

Reportagens
24 de março de 2025

A adaptação precisa levar em conta a desigualdade nas cidades

Conversa em podcast discute as formas como eventos extremos afetam diferentes territórios e maneiras de adaptação possíveis de serem realizadas

Análises
24 de março de 2025

Em ano de COP 30, senadores querem criar uma frente para explorar petróleo na Amazônia 

Embora os senadores digam que a exploração estaria “elevando a importância geopolítica do país”, abrir novos poços de petróleo e gás, na verdade, prejudica a imagem do país no exterior

Colunas
24 de março de 2025

O sabor da Amazônia está mudando

A insegurança alimentar está diretamente ligada às mudanças climáticas e ao aumento do preço dos alimentos, tornando pratos comuns inviáveis para muitas famílias

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.