Notícias

Área não falta

Estudo ainda inédito mostra que a capacidade de expansão da agricultura no Brasil, sem desmatamento, é de 60 milhões de hectares

Cristiane Prizibisczki ·
5 de maio de 2010 · 16 anos atrás
Foto: Beto Barata/ PR.

São Paulo Estudo ainda inédito coordenado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), previsto para sair em breve em publicação científica, traz à luz novos números sobre as áreas agricultáveis ou disponíveis para uso no Brasil. O trabalho mostra que, de toda vegetação natural (537 milhões de hectares), nos vários biomas, 43% estão em áreas protegidas (APP e unidades de conservação). Isto é, atualmente o país possui 57% de vegetação natural (308 milhões de ha) que podem ser destinados à criação de novas Unidades de Conservação, alocação de reservas legais ou acabarão sendo desmatadas.

Os números, apresentados na segunda-feira (3), em São Paulo, a um grupo de jornalistas, se contrapõem aos dados mostrados pela revista Veja desta semana, no texto “A farra da Antropologia oportunista”. A matéria garante que, somente em reservas e áreas de preservação ambiental (Unidades de Conservação e Terras Indígenas), o Brasil possui 550 milhões de hectares demarcados . “Realmente não sei de onde a Veja tirou esse número”, diz o pesquisador Gerd Sparovek, um dos autores do estudo.

O levantamento dos dados foi realizado durante um ano e meio pela Esalq em conjunto com a universidade sueca Chalmers University of Tecnology, com apoio do Instituto e Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), WWF-Brasil e MDA. Ele se soma às pesquisas científicas que provam que não é necessário derrubar mais nenhum hectare de vegetação nativa para expandir a agricultura no país. A falta de terras é o principal argumento da bancada ruralista no Congresso para a flexibilização do Código Florestal.

Uma das idéias principais que o artigo é de que o Pacto do Desmatamento Zero é viável e urgente, justificado pelo fato de que “a produção agropecuária não depende de desmatamento para expandir sua área de produção e/ou sua produtividade”. Segundo o levantamento, os agricultores têm disponíveis 60 milhões de hectares em pastagens extensivas com alta aptidão para a agricultura, área que, se utilizada, iria mais do que dobrar a capacidade de expansão do setor. Atualmente, a média da pecuária na Amazônia é de apenas um boi por hectare.

Segundo o documento, a conservação da vegetação natural no Brasil passa “necessariamente por uma revisão (re-invenção) do setor de produção pecuária” e pelo fortalecimento da presença do Estado na criação e manutenção de UCs de domínio e gestão pública, as que se mostraram mais eficientes do ponto de vista da conservação. Os 175 milhões de hectares que estão em UC´s e Terras Indígenas têm 97% de eficácia; já nos 375 milhões de hectares que estão no setor privado, na forma de Áreas de Proteção Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL), a garantia de proteção é muito menor  – 43% das APPs e pelo menos 17% da necessidade total de RL ( 254 milhões de ha) terão de ser supridos por restauração.

 

Leia Também
– A ciência e a verborragia ruralista
– Uma virada de jogo momentânea

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

Leia também

Reportagens
11 de novembro de 2025

COP30: Arte e cultura fazem a diferença no engajamento contra a crise climática

Como trunfo para dialogar com a sociedade sobre os desafios climáticos, a diversidade cultural amazônica está no centro da intensa programação aberta ao público na Free Zone, em Belém

Notícias
10 de novembro de 2025

Metade dos municípios mais afetados por desmatamento ilegal fica no Pará, aponta ICV

Levantamento mostra que cinco dos dez municípios com maior área desmatada ilegalmente na Amazônia estão no estado que sedia a COP 30

Colunas
10 de novembro de 2025

O sutil negacionismo fóssil do Brasil

No imaginário do Sul Global, a COP30 surgiu como esperançoso momento para manter clareza de propósito e levar o mundo para fora da crise humanitária do aquecimento global

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.