Vídeo do coletivo de coletivos Cicloliga
São Paulo pode e vai mudar. E é hora de pensar em como estruturar essa mudança. Não bastam ciclofaixas de lazer nos fins de semana. Não bastam ciclovias que podem ter alto custo eleitoral, nem no Rio Pinheiros, nem pintadas no meio da Avenida Paulista. Na avenida em que a Julie morreu cabe sim uma ciclovia, mas ela deve ser pensada como parte de uma rede cicloviária ampla e bem estruturada. E, apesar de ter efeito simbólico e um potencial midiático fantástico, uma ciclovia na Avenida Paulista talvez seja menos prioritária do que outras redes cicloviárias necessárias em regiões críticas para ciclistas na cidade, muitas das quais nas periferias e não na região central. Mais do que obras pontuais, os ciclistas de São Paulo exigem respeito.
![Os novos 4,8 km de ciclovia construídos na margem do Rio Pinheiros custaram R$ 4,4 milhões](/wp-content/uploads/oeco-migration//images/stories/ciclovia custo.jpg)
Comecemos pelo que é necessário. Foi com esta frase que teve início a reunião geral da Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) na última quarta-feira, segundo relato do amigo Matias Mickenhagen. Comecemos pelo que é necessário, depois pelo que é possível e, de repente, estaremos fazendo o impossível (frase atribuída à São Francisco de Assis). E o necessário neste momento é exigir que as autoridades considerem as necessidades de quem pedala. Que garantam infraestrutura e segurança, e que adotem as demais medidas imprescindíveis para garantir tranquilidade e segurançapara quem opta por pedalar nas cidades, conforme determina a lei. Não é favor, é direito.
É necessário neste momento insistir que as mortes de ciclistas não são acidentais, mas sim sistemáticas e decorrentes de uma omissão quase criminosa de quem deveria zelar pela segurança no trânsito da cidade, como escreveu Thiago Benicchio, diretor-geral da Ciclocidade. “Não é acidental que a omissão do poder público em relação ao serviço de ônibus na cidade de São Paulo tenha como consequência a morte de ciclistas, além de uma dificuldade permanente de convivência entre ônibus e bicicletas. As reclamações enviadas à São Paulo Transporte (SPTrans) são muitas e não têm nenhum encaminhamento. O órgão lava as mãos e transfere para as empresas concessionárias a responsabilidade pela educação e fiscalização de motoristas, omitindo-se de seu papel. Ao mesmo tempo que continua a destinar rios de dinheiro para novas avenidas e túneis, o poder público segue agindo de maneira tímida, sem planejamento e continuidade nas ações de construção de infraestrutura e educação cicloviária na cidade. Com isso, só aumentaremos os índices de congestionamento, a poluição e as mortes no trânsito. E continuaremos a acreditar que elas são acidentais”.
É necessário também cobrar para que a bicicleta não seja entendida somente como lazer, mas, mais do que isso, como transporte. Como bem escreveu o Gabriel Di Pierro Siqueira, diretor da Ciclocidade, “a bicicleta é uma realidade em São Paulo e em todo o mundo. Andam pelas ruas paulistanas mais de 500 mil ciclistas. A maioria utiliza a bicicleta não como instrumento de lazer, mas para realizar os seus trajetos diários.” É questão de respeito. A rua precisa ser de todos.
* O ciclista urbano também virou, é claro, personagem de reportagens que procuraram caracterizá-lo como um irresponsável kamikaze sem amor pela própria vida, e recebeu críticas de gente tão Azeda que não merece nem ser mencionada neste espaço. Teve quem defendeu que ciclista deve ser proibido de circular, teve quem chamou cicloativista de fascista, sempre com o velho argumento de que passeatas são coisa de gente desocupada e egoísta que atrapalha o trânsito. Ao contrário de senhoras indignadas que têm espaço aberto permanente no blog, terrorista midiático (que tenta ganhar destaque vendendo medo) não ganha nem link no Outras Vias.
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