Notícias

Fórum Mundial da Bicicleta e o exemplo de Porto Alegre

Um ano após atropelamento da Massa Crítica, ciclistas de Porto Alegre preparam Fórum Mundial de Bicicletas para discutir mobilidade urbana.

Redação ((o))eco ·
2 de fevereiro de 2012 · 12 anos atrás

Porto Alegre – Em 25 de fevereiro de 2011, em Porto Alegre (RS), o motorista Ricardo Neis apontou seu carro, acelerou e disparou intencionalmente contra mais de uma centena de pessoas que pedalavam na rua José do Patrocínio, em Porto Alegre. A violência, que deixou mais de 20 ciclistas feridos, foi assim descrita no artigo “Não foi acidente”, que Thiago Benicchio escreveu  para o Outras Vias – um dos mais lidos da história do blog. Agora, quase um ano após o atropelamento brutal, ciclistas que participam da Massa Crítica da cidade dão exemplo para todo o Brasil de como responder a este e tantos outros ataques que quem pedala e sonha com cidades menos poluídas e congestionadas sofre rotineiramente. 

Massa Crítica de Porto Alegre

Para marcar o aniversário do episódio, além de cobrar Justiça e punição ao criminoso em questão (o que é importantíssimo), os ciclistas da cidade também organizaram um grande encontro para discussão sobre o uso de bicicletas nas cidades. Trata-se do 1º Fórum Mundial da Bicicleta, espaço aberto para cicloativistas, urbanistas, autoridades e pesquisadores das principais capitais do país e do exterior debaterem mudanças e perspectivas para melhorias nos sistemas cicloviários. Trata-se de chamar a atenção para a necessidade de políticas públicas específicas para incentivar a prática e beneficiar quem pedala nas cidades. Trata-se de responder à violência com propostas concretas, ideias e, principalmente, entusiasmo.

Ciclistas de todas as idades ocuparam as ruas da capital no final da tarde da última sexta-feira

Que é o que não faltou na última Massa Crítica de Porto Alegre, realizada na sexta-feira, 27 de janeiro, um ensaio para o que deve acontecer no próximo encontro agora no final de fevereiro. No entardecer, a cidade foi invadida por um batalhão de ciclistas coloridos, alguns com filhos, a maioria armada com sorrisos e acenos simpáticos para os motoristas e pedestres. Velhos e jovens juntos, brincadeiras, namorados de mãos dadas, cantorias animadas e gritos de apoio do pessoal que participava do Fórum Social Temático, tudo junto em uma ocupação diferente as principais ruas e avenidas da capital. Em vez de trocarem fumaça, fechadas e aceleradas agressivas, centenas de pessoas percorreram a região central compartilhando alegria. Um ano após a barbárie, a Massa Crítica se desloca com uma leveza que às vezes falta em outras Bicicletadas, como a de São Paulo.

Talvez tenha sido impressão de visitante, encantado com a gentileza da Lívia Araújo, autora do blog Bike Drops e uma das articuladoras do Fórum Mundial. Mesmo sem conhecer pessoalmente o autor do blog, ela nem hesitou em emprestar sua bicicleta reserva durante a Bicicletada e mais alguns dias. E olha que é uma bela dobrável, a bike que deve ser pedalada durante o encontro por ninguém menos que o Chris Carlsson, autor do Nowtopia e um dos criadores da Critical Mass (aliás, tem um projeto aberto no Catarse de financiamento coletivo para pagar a passagem dele para Porto Alegre – se puder, colabore).


Reações

Não deu para ver, mas alguns dos que participaram relatam que, em determinado momento, próximo a lanchonete de uma rede que vende comida industrial, um motorista trocou palavrões e chegou a descer com um bastão para ameaçar quem passava. De qualquer forma, se ele queria briga, deve ter ficado frustrado. Felizmente. Mais do que armas de ataque, a Bicicletada de Porto Alegre improvisa bagageiros de bambu…

Bagageiro feito de bambu!

…e incríveis bicicletas surreais – no fim da pedalada, a Praça Zumbi dos Palmares é invadida por bicicletas de formatos malucos, pouco prováveis até.

Ciclosurrealismo, mode on (é isso mesmo, a roda de trás foi partida em duas)

O movimento empolga. Em diversas cidades do Brasil grupos se mobilizam para seguir pedalando até o encontro. No exterior, ciclistas de países vizinhos organizam passeios locais para lembrar, de forma solidária, a violência de um ano atrás – veja no Facebook

Deste ciclista, a única crítica ao movimento fica pelo esquisito grito “Bicicletaaaa, um carro a menos!” (em São Paulo, a Massa Crítica costuma cantar “Menos carros, mais bicicletas”, o que faz mais sentido já que são várias bicicletas no lugar de um montão de motores, e não de apenas de um carro). Hehehehe. No mais, a Bicicletada de Porto Alegre é hoje a mais gostosa de participar e a que melhor ensina a responder à truculência de quem briga e congestiona, e não transita pelas ruas.

Casal pedala de mãos dadas durante a Bicicletada de Porto Alegre

Mais amor, menos motor.

Esse texto tem inspiração direta no “sai da rua, viado!“, texto que o Denis Russo Burgierman escreveu para a Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) no Dia Mundial Sem Carro em 2010.

Leia também

Salada Verde
19 de abril de 2024

Museu da UFMT lança cartilha sobre aves em português e em xavante

A cartilha Aves do MuHna, do Museu de História Natural do Araguaia, retrata 10 aves de importância cultural para os xavante; lançamento foi em escola de Barra do Garças (MT)

Salada Verde
19 de abril de 2024

ICMBio abre consulta pública para criação de refúgio para sauim-de-coleira

Criação da unidade de conservação próxima a Manaus é considerada fundamental para assegurar o futuro da espécie, que vive apenas numa pequena porção do Amazonas

Notícias
19 de abril de 2024

Mais de 200 pistas de pouso são registradas dentro de Terras Indígenas na Amazônia

Maioria está próxima a áreas de garimpo, mostra MapBiomas. 77% da atividade garimpeira ilegal na floresta tropical está a menos de 500 metros da água

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.