Fotografia

Cara a cara com o mundo submerso

A fotografia subaquática é um desafio de plano e improviso, distâncias curtas, empurrões de baleias e busca de sintonia com os animais.

Daniel Botelho ·
28 de agosto de 2012 · 12 anos atrás

Fotografar embaixo d’água é um desafio. Costumo dizer que enquanto meus colegas, fotógrafos de vida selvagem terrestre, utilizam lentes de 600 milímetros, e se postam a 200 metros de distância com uma caneca de café na mão, nós fotógrafos subaquáticos precisamos nos aproximar o máximo do animal. Chega-se ao ponto de ser inevitavelmente tocado e empurrado, às vezes por animais de 80 toneladas, como foi o caso da baleia franca que me jogou dois metros acima da superfície, brincando comigo como se fosse uma bola.

A água funciona como um filtro, tirando as cores e a nitidez da foto. Portanto, quanto menos água entre o objeto e a lente melhor. Nós utilizamos o artifício de lentes supergrande angulares, no meu caso uma lente chamada “olho de peixe”, com 180 graus de ângulo de cobertura. Ela me permite enquadrar uma baleia inteira, mesmo estando a menos de 2 metros dela, minimizando a água entre eu e o animal.

Para se aproximar de um animal selvagem subaquático é necessário se fazer a “leitura” do animal e identificar a melhor forma de conseguir uma interação. Porém, por mais que se planeje, estamos todos nas mãos da vida selvagem. Se eles não quiserem se aproximar e interagir, a foto não acontece.

Eu acredito que a foto de um animal não pode ser “roubada”, tem que ser posada, consentida. É muito importante o contato visual na fotografia que pratico.

O trabalho de um fotógrafo subaquático envolve desde a pesquisa sobre quais animais fotografar, onde, quando, logística, criação do roteiro jornalístico – geralmente feito em parceria com o editor – e, finalmente, ir a campo. Tão importante quanto ter um roteiro é saber improvisar. Como sou um amante do Jazz, adoro improvisar, e pelo menos 30% das minhas imagens não são planejadas.

Com a depredação dos oceanos, eminente extinção dos tubarões e com populações de baleias e arraias jamanta instáveis, os fotógrafos submarinos precisaram aumentar o escopo de suas ações, voltando-as para a conservação dos oceanos.

Digo o seguinte sobre ativismo e conservação: como cidadão comum e habitante do planeta Terra, ajo em nome da minha responsabilidade social. Já como fotografo subaquático, trabalho pela preservação de minha atividade. Afinal de contas, se matarem estes animais, o que eu irei fotografar?

Espero que gostem de minhas imagens, foram todas tiradas com o coração!

height=”500

Daniel Botelho é um premiado fotojornalista, especializado em fotografia subaquática. Seu trabalho pode ser visto em mais de uma centena de campanhas publicitárias. Atualmente, ele contribui para publicações em mais de 20 países, entre elas, National Geographic,Time,Veja e BBC Wildlife. Preocupado com a devastação dos oceanos, Daniel tornou-se um ativista contra o massacre de baleias e tubarões nos oceanos. Sua conexão com a natureza remonta à infância, pois cresceu entre o mar e a floresta, no Rio de Janeiro. Visite o seu site pessoal no endereço danielbotelho.com

 

height=”500

Leia também

Notícias
27 de março de 2024

G20 lança até o final do ano edital internacional de pesquisa sobre a Amazônia

Em maio será definido o orçamento; temas incluem mudanças climáticas, risco de desastres, justiça ambiental e conhecimentos indígenas

Colunas
27 de março de 2024

O papel do jornalismo na construção de uma nova mentalidade diante da Emergência Climática

Assumir a responsabilidade com a mudança de pensamento significa assumir o potencial do jornalismo em motivar reflexões e ações que impactam a sociedade

Reportagens
27 de março de 2024

ICMBio tem menos de R$ 0,13 para fiscalizar cada 10.000 m² de áreas protegidas

Acidente com servidores no Amapá escancara quadro de precariedade. Em situação extrema, além do risco de morte, envolvidos tiveram de engolir o próprio vômito

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.