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Uma volta deliciosa em torno do lago Walden

O inverno afasta os frequentadores da bem cuidada reserva estadual de Walden Pond. É um bom momento para ver com os olhos de Thoreau.

Eduardo Pegurier ·
14 de fevereiro de 2013 · 11 anos atrás
Lago Walder. Foto: Wikipédia.

“O lago é lindo, mas daqui eu volto. Pela nossa amizade, abri uma exceção e visitei este parque com você”, disse minha amiga e anfitriã, Daniela. Estávamos no lago Walden, um parque estadual localizado em Concord, Massachusetts. Entretanto, mais conhecido como o local onde durante dois anos morou Henry Thoreau, filósofo e naturalista, que queria testar sua capacidade e suas reações durante a estada solitária, vivida numa casa construída com as próprias mãos, dentro da floresta. Daniela tem um problema político com o parque. Não com Thoreau, por quem certamente tem simpatia, mas com as regras atuais do local, que impedem essa amante e ativista pelos animais de passear com Frida, Gepeto e Lola, seus cães, de quem é inseparável.

Me vi, então, sozinho. Só restava explorar as redondezas do lago. A visão foi bela, como mostram as fotos abaixo. O céu estava límpido e o sol refletia nas águas geladas de Walden. Logo entrando na trilha, avistei três homens pescando no gelo, apesar da enorme placa alertando para o perigo desta atividade. De fato, o gelo parecia fino e se quebrasse, a queda na água poderia ser fatal.

Capa de “Walden”, publicado em agosto de 1854.

O perímetro do lago é de 2,7 quilômetros. Todo ele é cercado por uma bem cuidada trilha. No verão, o lugar é popular, frequentado por multidões e o parque oferece aulas de natação para crianças. Mas nesse fevereiro gélido, sou um dos poucos a circundá-lo. A floresta em torno está seca e o chão coberto por sua folhagem.

Na água, a neve, o gelo e os reflexos do sol dançavam sobre a superfície de Walden. Havia pontos completamente brancos, onde a neve se acumulou. Em outros, o vento usou-a para desenhar o que, de longe, pareciam ondas, mas era apenas o resultado das rajadas de ar que intercalavam neve e gelo. Em outros pontos, o gelo era tão fino que a água parecia ondular e se mover.

Minha ansiedade era encontrar a casa de Thoreau, apontada no mapa da entrada da trilha. Depois de andar cerca de 20 minutos, comecei a achar que tinha passado por ela sem vê-la. Felizmente, cruzei com outro visitante, uma senhora amável, que apontou uma curva um pouco mais adiante.

Minutos depois, encontrei o local onde viveu Thoreau. Não há mais casa, apenas suas ruínas: uma pilha de pedras. Embora a primeira reação tenha sido de decepção, a decisão pareceu acertada. O livro foi publicado em 1854. Por que manter uma espécie de Disneylândia, reconstruindo uma cabana erguida em meados do século 19? Além das pedras, guarda o local uma placa com uma das mais famosas citações de Thoreau:

“Fui para a mata porque queria viver deliberadamente, enfrentar apenas os fatos essenciais da vida e ver se não poderia aprender o que ela tinha a ensinar, em vez de, vindo a morrer, descobrir que não tinha vivido”

Não queria viver o que não era vida, tão caro é viver; e tampouco queria praticar a resignação, a menos que fosse absolutamente necessário. Queria viver profundamente e sugar a vida até a medula, viver com tanto vigor e de forma tão espartana que eliminasse tudo aquilo que não fosse vida, recorta-lhe um largo talho e passar-lhe rente um foice, acuá-la num canto e reduzi-la a seus termos mais simples e, se ela se revelasse mesquinha, ora, aí então eu pegaria sua total e genuína mesquinharia e divulgaria ao mundo essa mesquinharia; ou, se fosse sublime, iria saber por experiência própria, e poderia apresentar um relato fiel…

 

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  • Eduardo Pegurier

    Mestre em Economia, é professor da PUC-Rio e conselheiro de ((o))eco. Faz fé que podemos ser prósperos, justos e proteger a biodiversidade.

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