O desastre da última reunião da Cites - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas, realizada no mês passado em Doha (Qatar), têm gerado várias análises na imprensa ambiental que enfatizam como a ciência foi deixada de lado em favor da política e como a convenção tem falhado em proteger espécies ameaçadas de alto valor comercial. O maior vexame da Cites, subscrita por 175 países, foi a incapacidade de restringir o comércio de espécies marinhas como o atum-azul, cujas populações estão reduzidas em mais de 80%, e de três espécies de tubarões. Algumas delas tiveram populações reduzidas em mais de 95%, como o galha-branca-oceânico, descrito nos anos 1950 como o tubarão mais comum dos oceanos tropicais.
Embora endossada pela FAO e várias instituições científicas, a proteção a essas espécies foi torpedeada pela ação “diplomática” do Japão, que enviou uma delegação de 50 membros e um pacote de bondades e ameaças. Momentos de destaque foram a recepção oferecida pela delegação japonesa, onde foi servido sushi de atum-azul (imagine um churrasco de mico-leão) e a participação circense da Líbia na votação que decidiu não proteger o atum.
A “proteção” dessas espécies fica agora à mercê de entidades regionais que “regulam” a pesca e são as responsáveis pelo colapso de suas populações, com destaque para a ICCAT – Comissão Internacional para Conservação do Atum Atlântico, que define cotas para a pesca de atuns e outros peixes oceânicos no Atlântico. O atual comando da ICCAT afirma que fará um trabalho mais decente que a lambança feita por seus antecessores. As populações de atuns e companhia dirão se isso acontecerá.
A reunião da Cites também mostrou que a demagogia que utiliza argumentos como pobreza, diferenças culturais, tradições etc, tão familiares no Brasil nos discursos que justificam destruição ambiental para “combater a pobreza” e para que espécies ameaçadas continuem a ser mortas por “povos tradicionais”, foi definitivamente incorporado pela política externa em detrimento da boa ciência, que deveria determinar o caminho a seguir.
Leia também
![](https://i0.wp.com/oeco.org.br/wp-content/uploads/2019/07/Brumadinho-Foto-Felipe-Werneck-Ibama.jpg?resize=600%2C400&ssl=1)
Seis anos após tragédia de Brumadinho, responsáveis ainda não foram julgados
Famílias das vítimas realizam Ato por Memória e Justiça em São Paulo, Ouro Preto e Brumadinho. Impactos ambientais ainda não foram totalmente mensurados →
![](https://i0.wp.com/oeco.org.br/wp-content/uploads/2025/01/Guaricica-_-Reginaldo-Ferreira.jpg?resize=600%2C400&ssl=1)
Reforma tributária ampliará repasses a municípios que protegem a natureza
Aprimorar a gestão e a estrutura de unidades de conservação aumentou o retorno de impostos para localidade paranaense →
![](https://i0.wp.com/oeco.org.br/wp-content/uploads/2025/01/PODCAST-CACAU-CABRUCA_4.jpg?resize=600%2C400&ssl=1)
Podcast: A sombra, o cacau e a cabruca
No sul da Bahia, um sistema agroflorestal garantiu o florescimento de um produto que combina a produção de chocolate com a conservação da Mata Atlântica →