Salada Verde

O desastre da Cites

A demagogia foi incorporada pela política externa em detrimento da boa ciência, que deveria determinar o caminho a seguir.

Salada Verde ·
8 de abril de 2010 · 16 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

O desastre da última reunião da Cites - Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas, realizada no mês passado em Doha (Qatar), têm gerado várias análises na imprensa ambiental que enfatizam como a ciência foi deixada de lado em favor da política e como a convenção tem falhado em proteger espécies ameaçadas de alto valor comercial. O maior vexame da Cites, subscrita por 175 países, foi a incapacidade de restringir o comércio de espécies marinhas como o atum-azul, cujas populações estão reduzidas em mais de 80%, e de três espécies de tubarões. Algumas delas tiveram populações reduzidas em mais de 95%, como o galha-branca-oceânico, descrito nos anos 1950 como o tubarão mais comum dos oceanos tropicais.

Embora endossada pela FAO e várias instituições científicas, a proteção a essas espécies foi torpedeada pela ação “diplomática” do Japão, que enviou uma delegação de 50 membros e um pacote de bondades e ameaças. Momentos de destaque foram a recepção oferecida pela delegação japonesa, onde foi servido sushi de atum-azul (imagine um churrasco de mico-leão) e a participação circense da Líbia na votação que decidiu não proteger o atum.

A “proteção” dessas espécies fica agora à mercê de entidades regionais que “regulam” a pesca e são as responsáveis pelo colapso de suas populações, com destaque para a ICCAT – Comissão Internacional para Conservação do Atum Atlântico, que define cotas para a pesca de atuns e outros peixes oceânicos no Atlântico. O atual comando da ICCAT afirma que fará um trabalho mais decente que a lambança feita por seus antecessores. As populações de atuns e companhia dirão se isso acontecerá.

A reunião da Cites também mostrou que a demagogia que utiliza argumentos como pobreza, diferenças culturais, tradições etc, tão familiares no Brasil nos discursos que justificam destruição ambiental para “combater a pobreza” e para que espécies ameaçadas continuem a ser mortas por “povos tradicionais”, foi definitivamente incorporado pela política externa em detrimento da boa ciência, que deveria determinar o caminho a seguir.

Leia também

Reportagens
22 de novembro de 2025

COP entrega pouco, mantém ameaça de colapso climático e colhe críticas globais

Entidades civis reconheceram ao mesmo tempo avanços e possibilidades para conter os fósseis e o desmatamento

Reportagens
22 de novembro de 2025

Mapa para fins dos fósseis fica de fora do texto final da COP 30

Presidência brasileira propõe roteiro “alternativo” sobre assunto. Sociedade lamenta, mas fala em abertura de diálogo

Salada Verde
22 de novembro de 2025

Organizações de MT denunciam ofensiva política contra homologações de Terras Indígenas

Entidades afirmam que governo de Mato Grosso espalha desinformação sobre homologações e alimenta conflitos após atos declaratórios durante a COP30

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.