Na semana passada saiu uma notícia tímida, quase escondida na imprensa de Mato Grosso, de que o presidente da Assembléia Legislativa e um dos políticos mais influentes do estado, deputado José Geraldo Riva (PP), havia sido condenado em primeira instância pelo Tribunal de Justiça por improbidade administrativa, sendo obrigado a devolver aos cofres públicos 2,6 milhões de reais. Pois nesta terça estava o parlamentar trabalhando normalmente numa audiência pública que ele mesmo convocou para discutir o zoneamento da cana-de-açúcar no estado, e aproveitar a oportunidade de criticar as restrições ambientais que o governo federal impôs ao proibir a expansão dos canaviais no Pantanal e na Amazônia.
Um de seus argumentos é de que a cana é um dos melhores sequestradores de carbono que existem, e que ao utilizar áreas degradadas para o plantio, os canaviais estariam ajudando o meio ambiente. Outro deputado, Wagner Ramos (PR) falou que o zoneamento da cana causará um “estado de sítio” e é uma afronta à soberania de Mato Grosso. Ao chamar a medida de inconsistente e desprovida de embasamento legal, o parlamentar colocou em dúvida “supostos” problemas ao meio ambiente, esquecendo-se de que plantar lavouras nas cabeceiras dos principais rios do Pantanal assoreia cursos e mexe na vazão hídrica de todo o bioma.
Riva aproveitou o ensejo para criticar a moratoria da carne. Segundo ele, é um absurdo excluir uma parcela do segmento produtivo – aquela que, por sinal, produz carne a partir de desmatamentos ilegais. E avisou “não há como ter boi sem ser de área desmatada”. Apesar do compromisso de monitorar a cadeia produtiva da carne por parte dos frigoríficos, representante do Ministério da Agricultura tentou tranquilizar Riva e outros ruralistas dizendo que nenhum produtor será prejudicado. O vice-presidente da Federação de Pecuária e Agricultura de Mato Grosso (Famato), Normando Corral, chegou a dizer que 115 dos 141 municípios mato-grossenses ficarão “fora do processo de produção”. Os parlamentares querem marcar uma reunião com o governador Blairo Maggi para pedir explicações sobre a moratória.
Leia também

O falso herói dos mares: por que o GNL ameaça os oceanos e o futuro do Brasil?
O Brasil tem demonstrado interesse em investir em navios movidos a gás natural liquefeito, o que contraria as projeções alinhadas com o Acordo de Paris →

Deputado do PL é novo relator do Projeto de Lei do Licenciamento
O ruralista Zé Vitor, que relatará a proposta no Plenário, votou a favor da primeira versão do PL que passou na Câmara e em de outras 4 propostas que flexibilizam o meio ambiente →

Declínio de animais dispersores de sementes dificulta combate às mudanças climáticas
Equipe internacional de pesquisadores faz alerta global para necessidade de incluir frugívoros nas estratégias de conservação, recuperação florestal e mitigação das alterações do clima →