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Uso do solo favoreceu tragédia, diz professor

Para Abelardo Montenegro, da UFRPE, ocupação das margens dos rios e ausência de mata ciliar potencializaram destruição das chuvas no Nordeste

Celso Calheiros ·
1 de julho de 2010 · 15 anos atrás
Barreiros, em Pernambuco, depois do rastro de destruição. Foto: Agência Brasil.

Recife — A ocupação irregular das margens dos rios, ausência de mata nativa e ciliar, além da monocultura da cana-de-açúcar como característica da região contribuíram para transformar dias de chuvas intensas em Pernambuco e Alagoas em uma calamidade sem precedentes na história dos municípios atingidos – mesmo em cidades com histórico de cheias.

Essa é a opinião do professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Abelardo Montenegro, especialista em hidrologia e tecnologia rural. O problema, segundo o especialista sobre a causa da destruição, começa com a forma como as cidades são construídas, perigosamente próximas da planície dos rios. De acordo com ele, além das cidades ocuparem uma área que deveria ser mantida como área de segurança para o leito do rio, a colocação de dejetos, lixos e entulhos também prejudica o curso das águas.

Em volta das cidades atingidas pelas enchentes, a paisagem é de cana-de-açúcar. “A monocultura não favorece a absorção da água da chuva, nessa região falta uma cobertura natural com árvores de grande porte que permitam a infiltração da água”, explica Abelardo Montenegro.

Antes das cheias, ocorreram quatro dias de chuvas intensas na região. O volume pluviométrico variou de 300 a 400 milímetros – mais do que o volume de todo mês de junho em Pernambuco (junho é o mês mais chuvoso). Antes das chuvas mais fortes, chuvas fracas, mas persistentes, deixaram o solo encharcado, saturado. Esse fenômeno levou toda a água que caía para os rios.

As chuvas atingiram as nascentes dos rios Paraíba, Canhoto e Mundaú, que nascem em Pernambuco e seguem curso para Alagoas, além do Rio Una, que corta Pernambuco. Como a vazão média desses rios é de 50 metros cúbicos por segundo. No momento mais intenso da cheia, a vazão chegou a 1 mil metros cúbicos por segundo, isso ocasionou a força da destruição.

Com o debate no Congresso Nacional sobre o Código Florestal, o professor Abelardo Montenegro defende a preservação. “A mata ciliar dos rios é extremamente importante, mas não é tudo. Além da preservação dessa proteção natural contra o assoreamento, deve-se ter ao longo da bacia hidrográfica reservas de mata nativa capaz de apoiar a conservação natural do leito do rio”.

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