Reportagens

Visitar para conservar

Estudo comprova que a melhor maneira de manter áreas de conservação é incentivar o turismo. Mas para isso, economias precisam crescer e a infra-estrutura tem que ganhar investimentos

Carla di Cologna ·
20 de junho de 2007 · 17 anos atrás


Daan Vreugdenhil, diretor do Instituto Mundial para a Conservação e Meio Ambiente dos Estados Unidos, acredita que a partir do momento que existirem melhores infra-estruturas e estradas que tornem mais acessíveis as visitações às unidades de conservação, elas passarão a ser valorizadas pela população e, conseqüentemente, mais bem preservadas. A tese, um dos principais temas do V Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, baseia-se em estudo que analisa três grandes países com rica biodiversidade: China, México e Brasil. Voltado aos mecanismos financeiros que sustentam parques nacionais, seu trabalho alerta que a não divulgação dessas áreas em seus próprios países faz com que as pessoas não saibam de sua existência, o que acaba atribuindo a elas pouca ou nenhuma relevância.

Na China, graças ao crescimento econômico, deu-se justamente o contrário. O país tem mais de 450 áreas protegidas, que equivalem a 6% de seu território nacional, variando de desertos às montanhas mais altas do mundo, como o Tibet. A maioria dos parques foram estabelecidos na segunda metade do último século. Com o crescimento da economia chinesa, a classe média começou a viajar mais. Entre 1994 e 2004 o turismo interno cresceu 7,5% ao ano, e o internacional 9% ao ano. A média de crescimento na visitação aos parques nacionais pelos próprios chineses foi maior que a do turismo internacional. Um exemplo é o Parque Nacional Sanqing Shan, cujo número de visitantes cresceu de 40 mil em 1995 para mais de 500 mil em 2004.

A razão para o pulo vai do aumento do poder de compra dos chineses a melhorias na infra-estrutura rodoviária. No México, as áreas protegidas por lei cresceram de 8,8 milhões de hectares em 1991, para 18,7 milhões em 2005, em 154 áreas. A maior parte delas está em mãos de comunidades locais. A variedade de paisagens vai de desertos na Baixa Califórnia a florestas tropicais úmidas em Chiapas, na fronteira com a Guatemala. As áreas marinhas protegidas estão localizadas no oceanos Atlântico e Pacífico. A infra-estrutura rodoviária cresceu. Mas nem a economia e nem a estrutura de visitação nas unidades de conservação acompanhou esse crescimento, o que contribuiu para manter estável o número de pessoas que frequentam os parques nacionais do país.

Sob proteção do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o SNUC, o Brasil tem 55 milhões de hectares distribuídas por 245 áreas federais protegidas, 62 das quais são Parques Nacionais. Elas conservam uma grande variedade de paisagens e ecossistemas, que vão de florestas secas no Nordeste à floresta tropical Amazônica e a remanescentes da Mata Atlântica. De 2000 até 2005, a visitação total nas unidades de conservação no Brasil cresceu 9% ao ano. Nos últimos três anos, ela chegou a crescer 16% na média. No entanto, esse salto continua concentrado em alguns parques nacionais, Como Iguaçú, Floresta da Tijuca, Aparados da Serra e Fernando de Noronha. Nos demais, a presenca de visitantes ou é inexistente, ou praticamente negligenciável.

Atração dos monumentos

Mesmo nas áreas mais visitadas, o potencial para o turismo ainda não foi completamente explorado. A rede viária do país é praticamente a mesma de 30 anos atrás, a economia cresceu, mas longe dos padrões chineses e a infra-estrutura dos Parques Nacionais mais populares ainda é carente. Um exemplo disso são as trilhas históricas do Parque Nacional da Floresta da Tijuca, que continuam praticamente do mesmo jeito que foram abertas, na a primeira metade do século passado. Não é à toa, portanto, que elas continuam tendo baixa visitação.

O estudo coordenado por Vreugdenhil constatou que as áreas protegidas tanto no Brasil como no México ou na China não são propagandeadas no exterior. Sua visitação portanto, depende da capacidade da população nativa chegar até elas. Como são países grandes, o grosso do turismo em Parques Nacionais depende de pessoas que moram em regiões próximas. Outra constatação é que o volume de frequência nos parques tem a relação direta com a presenca de monumentos naturais ou arquitetônicos dentro ou próximos deles. Nesse quesito, dois parques brasileiros, o da Floresta da Tijuca no Rio, graças ao Cristo Redentor e o Pão de Açúcar, e o de Iguaçu, por conta das cataratas, vão muito bem obrigado.

No Brasil e na China existe a possibilidade de um crescimento rápido no turismo doméstico e internacional, enquanto no México espera-se o crescimento apenas interno.

Com o aumento previsto do número de carros por habitante, especula-se que a exemplo de o que acontece nos Estados Unidos e na Europa, as famílias comecem a explorar mais seu próprio país. Por isso, as gerências das unidades de conservação terão que se preparar para a chegada de mais gente, investir pesado na estrutura de recepção a visitantes e se preocupar com os futuros impactos negativos. Na China, por exemplo, problemas de degradação em algumas áreas protegidas muito visitadas – compactação do solo, erosão, uso excessivo da água, lixo e vandalismo – já foram detectados.

Avaliando o aumento do lucro nas unidades de conservação brasileiras de 8,30 milhões de reais em 2000 para 14,3 milhões de reais em 2004, Vreugdenhil sugere ótimos prognósticos. De 2008 a 2016, ele calcula que o número de visitantes vai aumentar de 2,662 milhões para cerca 5,706,233 milhões. Em reais ganhos, isso se transfere de 29,148,900 milhões para 62,483,256 milhões de reais – valores calculados para hotéis, restaurantes, lojas e outras atividades que atendam ao público.

Mas, para isso, Vreugdenhil reafirma a necessidade de investimentos nas áreas de visitação e na prestação de serviços. Os preços teriam de se adaptar à renda média da população e seguir corretamente a inflação. As rendas deveriam ser destinadas não às unidades individualmente, mas ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que protegeria igualmente as áreas com maior e menor número de visitação. E avisa, apesar das boas perspectivas: enquanto não houver um bom marketing interno e externo das belezas naturais, os investimentos não serão feitos, as infra-estruturas e os serviços continuarão falhos e a conservação.


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