Dois milhões seiscentos e noventa e oito mil e novecentas e sessenta e oito (2.698.968) espécies de plantas e animais. O número grandioso é parte dos resultado do maior Censo da Vida Marinha feito até os dias de hoje. Foi divulgado no dia 2 de agosto na edição on-line da Public Library of Science (PLoS ONE),. Um trabalho iniciado no ano 2000 e que só será finalizado em outubro deste ano, quando haverá em Londres o encontro para a apresentação dos projetos que reúnem cerca de 360 pesquisadores de todo o mundo.
As espécies estão divididas em 14 grupos que vão dos peixes a pequenos vermes, passando por esponjas, moluscos e crustáceos. Vinte e cinco áreas-chaves compõem a pesquisa. Austrália e Japão foram os dois primeiros países com o maior número em biodiversidade marinha atingindo um número de quase 33 mil registros. O Brasil ocupa o 13º lugar com cerca de 9 mil registros.
Dados do Censo
– Os donos do mar são os crustáceos. Eles representam entre 22% e 35% das espécies marinhas do Brasil, do Alasca, da Antártica, da Califórnia, do Caribe e da Corrente de Humboldt, mas são apenas 10% da biodiversidade do Mar Báltico. – Ainda há muito trabalho pela frente. O percentual de espécies ainda não descritas é estimado entre 39% e 58% na Antártica, 38% na África do Sul, 70% no Japão, 75% no Mediterrâneo e mais de 80% na Austrália. – Mesmo as regiões menos diversas, como o Mar Báltico e o nordeste dos Estados Unidos, ainda têm 4 mil espécies desconhecidas. – O Mar Mediterrâneo é o local onde há mais espécies invasivas. São 600 aquelas que não são típicas daquele ambiente. Saiba mais clicando aqui. |
Os crustáceos, que incluem caranguejos, lagostas, lagostins, camarões e cracas, dominam as águas mundiais com 19% de índice, entre todas as espécies registradas. Em seguida estão os moluscos, como polvos, caracóis, lesmas, com 17 %. E só em terceiro lugar aparecem os peixes com 12% de representação da vida marinha catalogada.
Os números coletados representam a grande diversidade da vida debaixo das águas do planeta, mas a pesquisa ainda está incompleta. Os inventários de Madagascar, Indonésia e do Mar Arábico não foram enviados a tempo para esta publicação. Logo, esses números podem aumentar.
Muitas dúvidas
Apesar desse esforço de dez anos de trabalho o mar continua sendo um misterioso local para o ser humano. “Com esse tipo de resultado vemos um grande número de espécies que habitam debaixo d’água, mas percebemos que nosso conhecimento ainda é muito pequeno. Cerca de 70% da vida marinha está a mais de 3 mil, 4 mil metros de profundidade e ainda não se tem total conhecimento sobre essas regiões”, explica o pesquisador Dr. José Angel Alvarez Perez, da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e membro do Instituto Mar-Eco que também está na pesquisa do Censo da Vida Marinha.
O objetivo central do Censo da Vida Marinha é responder a pergunta: O que vive no oceano? E esse antigo questionamento tem razão de ser. “Precisávamos do censo urgentemente porque um conhecimento pequeno da taxonomia marinha impede que sejam descobertas e descritas novas espécies. E também temos que conhecer melhor aqueles que vivem debaixo d’água para evitar seu declínio”, afirma Mark Costello, um dos autores do censo e professor da universidade neozelandesa de Auckland.
Nova família de crustáceos
Entre as descobertas há notícias boas e alertas para que o mar continue rico na sua biodiversidade. Como a ocorrida entre março e abril de 2005, numa expedição realizada que um bicho feio e cabeludo aumentou o número dos crustáceos conhecidos nas águas do planeta. A pesquisa foi coordenada pelo francês Michel Segonzac, cientista do Censo da Vida Marinha. O “Yeti Crab” (Kiwa hirsuta) não é só uma nova espécie de crustáceo, mas sim, uma nova família. Criado nas águas geladas no sul do Oceano Pacífico, do bicho peludo não se tinha conhecimento há trinta anos atrás quando começaram as explorações científicas na região. Ele pode ser assemelhado com caranguejos, lagostas e camarões, mas a falta de olhos e uma grande quantidade de pelos e cerdas revelam uma morfologia única. E não vai ser fácil conhecê-lo em superfície, o “Yeti Crab” foi observado e coletado a mais de 2 mil metros de profundidade. Ele se alimenta do tecido de mexilhões e segundo os cientistas no local onde esta nova família foi encontrada pode ser uma das poucas áreas de sua presença no fundo do mar. |
Conservação dos Corais
Em 2006, outro estudo revelou que a maioria dos recifes de corais do mundo estão sob ameaça por falta de proteção e conservação. O Future of Marine Animal Populations (FMAP), outro projeto do Censo da Vida Marinha, concluiu que dos 18,7% dos corais de recifes que vivem nas áreas marinhas protegidas no mundo, apenas 2% possuem adequada proteção para se prevenir contra a degradação. E eles creditam esse percentual a uma legislação insuficiente que possa defender os corais de práticas como turismo irresponsável, poluição, a caça e outros mecanismos de destruição desses animais. Com a população de corais de recife sob ameaça os pesquisadores apontam que a necessidade de manter cuidados apropriados nunca esteve tão urgente. Pela própria espécie e pelo meio bilhão de pessoas que no mundo todo desenvolvem atividades econômicas relacionadas aos recifes de coral. Esses animais também são importantes por abrigar em seu interior diversas outras espécies e ainda permitir a diversidade de alimentos para as mesmas. |
Atum azul sob ameaça na Europa
Um olhar para o passado tenta salvar o atum azul (Thunnus Thynnus) de desaparecer das águas que banham o continente europeu. Este peixe é uma espécie importante para o comércio na região e sua atividade pesqueira existe há pelo menos 100 anos. Um estudo History of Marine Animal Populations, de 2007, apontou que lá no norte da Europa a abundância do atum era enorme no início do século XX. E ainda na primeira metade do século, entre as décadas de 30 e 40, o comércio pesqueiro desta espécie passou a se industrializar, e aumento sensivelmente sua produção. A conclusão é triste. Já nos anos 70 era raro encontrar o atum azul nas águas do norte europeu. O alerta foi dado e os cientistas esperam que com esta medida possam gerar esforços futuros para que além do atum azul, outras espécies de peixes tenham a conservação que merecem para continuarem a nadar em seus habitats, sem o perigo da extinção. |
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