Reportagens

Jacaré na sarjeta

Jacarés-do-papo-amarelo tentam sobreviver em território natural na zona oeste do Rio. Mas convivem com esgoto e espremidos por bairros em franca expansão.

Gabriela Moreira ·
22 de dezembro de 2005 · 20 anos atrás


O biólogo Geraldo Espínola alerta para o risco de extinção da espécie. “Daqui a alguns anos eles estarão restritos aos zoológicos e parques da cidade”. Por enquanto, moradores do Recreio dos Bandeirantes ainda podem admirá-los numa simples ida à praia, em qualquer hora do dia. Tomam banho de sol e se alimentam nas proximidades do Canal das Tachas, que corta o bairro e liga o Parque Chico Mendes à Reserva Biológica de Jacarépagua. Espínola é gestor do Parque, onde coordena um berçário de jacarés.

É uma tentativa de resgatar o que já foi a maternidade dos Caiman latirostris. “Era o sítio perfeito para eles, onde a população não mexia”, explica Adelmar Coimbra Filho. Em 1961, quando era administrador da Reserva Biológica de Jacarepaguá, o biólogo reintroduziu a espécie na região. Na época, a área era composta de grandes manguezais.”Os jacarés são os habitantes mais antigos daquele espaço, mas na década de 50 já estavam ameaçados pelo excesso de posseiros que costumavam caçá-los. Para reverter o quadro, soltamos 22 animais”.

De lá para cá, a ocupação humana cresceu em ritmo muito mais acelerado do que a reprodução dos jacarés, e a região conhecida como “sertão carioca” foi soterrada pela especulação imobiliária. Os bandeirantes que lá repousaram fizeram do Recreio um vizinho incômodo a Jacarepaguá que, não por acaso, significa “vale dos jacarés”.

Cheiro de esgoto


A destruição do habitat natural e a caça predatória levaram os jacarés-do-papo-amarelo a passar da condição de anfitriões a intrusos. Nos últimos dois anos, 37 animais foram levados para o Parque Chico Mendes. “A maioria chega saudável, mas alguns têm fortes marcas de agressão. A população reclama que o jacaré invade a cidade, quando na verdade, fomos nós que invadimos o território deles”, explica Espínola. “Não há registros de que um jacaré-do-papo-amarelo tenha atacado um ser humano, portanto, eles não são motivo de alarde”.


Com tamanha resistência, os jacarés não precisam de muitos cuidados. “O primeiro passo é restituir a mata no entorno do canal e depois deixar as lagoas em condições hídricas aceitáveis”, resume Adelmar Coimbra Filho. Há 44 anos, ele devolveu os animais à região. Hoje, é preciso devolver o ambiente aos jacarés.

* Gabriela Moreira é jornalista. Trabalha no jornal Extra, do Rio de Janeiro.

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