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Ciclistas selvagens ou o Complexo de Pateta em duas rodas

Bicicletas se multiplicam nas ruas e, junto com popularização, surgem comportamentos agressivos que reproduzem lógica de guerra no trânsito.

Daniel Santini ·
25 de outubro de 2012 · 13 anos atrás

Em 1950, em um desenho intitulado Motor Mania, o Pateta fazia graça de um tipo de comportamento no trânsito que se tornou comum com a massificação dos automóveis nas cidades. Em uma fração de segundos, o simpático Senhor Andante, um pedestre que cumprimenta vizinhos e sempre sorri, transforma-se no Senhor Volante, um motorista agressivo que acelera e buzina o tempo todo.

O desenho é genial e tem sido utilizado desde então em campanhas de educação no trânsito em todo o mundo. Assista ao vídeo:

Hoje, 52 anos depois, outros tipos de pateta surgem, agora em novos modais. Junto com o começo da popularização das bicicletas nas cidades, alguns ciclistas reproduzem o comportamento de guerra que impera nas ruas. Esquecem a lei, que diz que o maior deve sempre proteger o menor no trânsito (artigo 29 do Código Brasileiro de Trânsito: “Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres”) e pedalam tirando finas de pedestres, invadindo calçadas, sendo agressivos.

Se a bicicleta ganha espaço como alternativa ao uso do carro, é por ela ser um veículo confortável que permite outra relação com a cidade – mais limpa, justa e equilibrada. Quem opta por voar até o trabalho em cima de uma magrela, gritando para pedestres, xingando motoristas ou se arriscando, perde justamente a maior vantagem deste modal: poder viajar com calma, vivendo o caminho.

Recentemente, o amigo Valdson Cleto, ciclista dos bons, descreveu a fina que tomou caminhando: “Em Curitiba, andando a pé na calçada, me aproximando da esquina para atravessar a rua, de repente quase sou atropelado por uma mulher em uma bicicleta, que veio de trás de mim, passou do meu lado à esquerda e ia continuar na calçada à direita. Um homem que a acompanhava em uma bicicleta speed, também na calçada, todo vestido com roupa de ciclista e com capacete, passa e fala: – Difícil você olhar, né? Eu pergunto: -Como é? Ele repete. Na ignorância dele, o pedestre na calçada é que deve tomar cuidado com a bicicleta!”

Em São Paulo, o Odir Züge Jr., nesta semana, subindo a Cantareira de volta para casa depois de um dia pesado de trabalho, cansado pedalando em uma subida, sentiu só a fina de um ciclista em um ciclomotor elétrico* – ou bicicleta elétrica, como preferem alguns – e, no susto, ainda ouviu um “pedala, mané!”.

No Rio de Janeiro, o Eduardo Pegurier, editor aqui do Eco, já teve que desviar mais de uma vez de skatistas bombados que avançam com velocidade, gritando para quem está caminhando sair da frente. É a lei do mais forte?

A conclusão? O Valdson mesmo arrisca:

“É aquele negócio, não existe motorista e ciclista, o que existe são pessoas de bom senso e educadas e pessoas ignorantes. Existe um veículo (a bike) que é melhor para a cidade do que o outro (o carro). E antes um ignorante numa bicicleta do que um ignorante num carro”.

Vale para skates também.

* Voltaremos a falar de bicicletas e motores elétricos neste mesmo espaço em breve.

  • Daniel Santini

    Responsável pela plataforma ((o)) eco Data. Especialista em jornalismo internacional, foi um dos organizadores da expedição c...

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