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Primeiras impressões de um ciclista em Londres

Confira o relato sobre as primeiras semanas de um brasileiro que começou a pedalar na cidade, em meio ao aprimoramento em curso da malha cicloviária local

Redação ((o))eco ·
25 de novembro de 2011 · 12 anos atrás

O portal ((o)) eco tem publicado reportagens aprofundadas sobre mobilidade urbana e bicicletas em Londres, na Inglaterra. Com a intenção de aproveitar as Olimpíadas de 2012 para melhorar a qualidade de vida da população, a Prefeitura deu início a uma série de experiências que incluem o aprimoramento da rede cicloviária local e dos sistemas de aluguel de bicicletas. Em um dos textos produzidos para ((o)) eco como parte do projeto Cidade para Pessoas, a jornalista Natália Garcia já descreveu a “revolução das bicicletas” defendida pelo prefeito Boris Johnson. Ele pretende aumentar em 400% o uso de bicicletas nas viagens diárias na cidade até 2026, ou seja, ter 1.5 milhões de deslocamentos de bicicleta por dia na cidade. O prefeito diz que a ideia é tornar Londres “uma cidade ‘ciclável’, onde as pessoas possam pedalar em um ambiente amigável às bicicletas: seguro, agradável e simples”. Leia a reportagem clicando aqui: De bicicleta em Londres, um caso de amor.

Desta vez, dando continuidade ao acompanhamento das experiências em curso em Londres, ((o)) eco e o blog Outras Vias apresentam o relato do ciclista brasileiro Fernando Carignani, que está vivendo na cidade e tem utilizado a bicicleta como transporte. No depoimento abaixo, ele conta sobre os primeiros 320 km de duas semanas pedalando na Inglaterra.

 
De bicicleta em Londres

Por Fernando Carignani

“Após alguns anos de reflexões e excesso de prudência, finalmente estou realizando algo que pedalava em meus pensamentos desde a adolescência: passar um período no exterior e vivenciar outra cultura. Diferentes hábitos, outro idioma, comportamentos inesperados, clima e paisagem distintos.

 

Vivo em Londres há pouco mais de três meses e a prioridade do momento é estudar inglês. Ainda não trabalho e vou sobrevivendo de economias nesta cidade de custo de vida alto que devora reais. A libra esterlina está cotada em torno de R$ 3. Sim, notadamente uma cidade cara, mas com virtuosa infraestrutura para transporte público. Com 9 milhões de habitantes e favorecida pela topografia plana, ela tem 12 linhas de metrô que se interligam constantemente, e outras tantas de trem e ônibus em inúmeros trajetos chegando aos pontos entre 5 a 10 minutos. Esta cidade dinâmica fundada há 2 mil anos pelos romanos deve sua incrível mobilidade a seu passado, quando se viu populosa e pulsante antes do advento do automóvel e, por isso, hoje, possibilita a seu morador ou turista o abandono do uso do carro.

Há duas semanas comecei a pedalar assim que recebi em casa uma bike híbrida de alumínio, comprada via internet por bem gastas 210 libras, já que veio com bagageiro, bomba, banco confortável, proteção para corrente, para-lamas e 21 marchas. Um pequeno dínamo, quando em contato com o pneu traseiro, alimenta o farol e a luz vermelha na traseira.

A primeira experiência pedalando foi numa manhã qualquer, indo para aula. Preocupado com o fluxo de veículos, que aqui se movem pelo lado esquerdo das ruas, ia me acostumando com a bike nova e com o ritmo do trânsito local. São poucas as avenidas largas e extensas, o que implica numa menor velocidade média dos carros. Há congestionamentos, claro, mas nada desesperador como numa sexta-feira encarar a Avenida Paulista em qualquer sentido. Motoristas apressados e que vão de 1ª a 4ª marcha num de espaço de 50 metros são raros. O trânsito, em geral, flui.

Já fora do bairro e dentro da “garrafa”, com é chamada Central London pelo formato que algumas linhas formam no mapa do metrô, comecei a notar e interpretar o comportamento dos motoristas. Para meu deleite percebi que eles mantêm distância segura dos ciclistas. Os veículos não são utilizados como uma ferramenta para amedrontar aquele que pedala. A Bus Lane, além de ônibus com um ou dois andares, também é  utilizada por táxis e bicicletas. O ciclista se mantém à esquerda, respeita as leis de trânsito e sem qualquer confronto tem preferência para embalar após o sinal abrir, para entrar em travessas ou cruzamentos. Por bem conhecer o que é pedalar pela cidade de São Paulo é surreal escrever isso, e talvez difícil de acreditar, mas aqui a bicicleta é respeitada de acordo com seu porte e desempenho. Ela é parte de um range de opções de transporte, sendo apenas mais uma alternativa. Por a bicicleta já ser uma realidade na Europa à época da chegada dos carros particulares, seus motoristas devem ter entendido que seu espaço deveria ser garantido, afinal, provavelmente eram ciclistas antes de comprarem um automóvel.

Nessa primeira pedalada rodei 23 km saindo do Norte da cidade, de Crouch End, com destino a Barons Court, no Sudoeste. No trajeto lógico e retilíneo seriam apenas 15 km, mas após deixar cair do bolso o pequeno guia de ruas pedalei por mais de uma hora tentando me achar em bairros ainda desconhecidos. Era o típico ciclista chato, lerdo, inseguro e olhando por cima dos carros em velocidade e traçado irregulares, buscando a direção correta. Ainda assim, em momento algum fui xingado, pressionado, provocado, ameaçado ou sequer gerei reações impacientes de qualquer natureza nos motorizados que compartilhavam comigo o asfalto do centro da cidade.

Em uma cidade inundada por usuários de bicicletas de todas as idades e que as utilizam principalmente como meio de transporte urbano, em pelo menos 3 dias na semana uso a magrela pra ir estudar, sem contar quaisquer outras atividades. Após duas semanas o ciclocomputador já acumula 320 km iniciais de alguns milhares que devo rodar por aqui.”

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