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Smart grid, uma rede super poderosa

O uso de redes inteligentes é pré-requisito para adoção de fontes renováveis de energia, facilitando o emprego de pequenas geradoras e a eficiência na transmissão.

27 de janeiro de 2009 · 15 anos atrás
  • Eduardo Pegurier

    Mestre em Economia, é professor da PUC-Rio e conselheiro de ((o))eco. Faz fé que podemos ser prósperos, justos e proteger a biodiversidade.

“Estradas e pontes são as primeiras coisas que as pessoas pensam quando alguém fala sobre infra-estrutura”, nota Alex Tabarrok, economista e blogueiro. “É uma pena porque nós já gastamos (nos Estados Unidos) mais de 100 bilhões de dólares em infra-estrutura de transporte (…). Seria mais valioso aumentar o investimento em redes de eletricidade, nos chamados smart grids (redes inteligentes)”, completa.

Essas redes envolveriam qualidades capazes de azeitar a transição da matriz energética para fontes renováveis, unindo tecnologias como uso de supercondutividade, preços flexíveis e arquitetura plug-n-play (plugue e use). O início da construção dessa nova rede faz parte do pacote de estímulo econômico de Barack Obama. Embora pouco notado, é um dos seus pontos altos e uma prova de que a escolha de Steven Chu, prêmio Nobel de física e defensor do sistema, para Ministro de Energia, foi uma das melhores escolhas do novo presidente.

A smart grid (rede inteligente) tem muitas vantagens sobre a dumb grid (rede burra). Por exemplo, lida melhor com as variações do preço da energia. Embora o consumidor esteja acostumado a pagar um preço fixo pela eletricidade que consome, o custo da mesma pode variar por um fator de 10 vezes dentro do mesmo dia. Em outras palavras, o custo da energia muda o tempo todo, mas o consumidor não sabe nem reage a essa mudança. Na super grid, o preço final variará também, criando o incentivo para economizar na hora de pico de preço e para vender o excesso disponível em momentos de pouca demanda. Também facilitará a criação de eletrodomésticos e sistemas de calefação/ar-condicionado informatizados, que saberão tirar vantagem das oscilações de preço.

A eficiência na transmissão de eletricidade pelos novos cabos será muito superior, pois serão supercondutivos. Como resultado, poderão levar, com pouca perda, energia a áreas distantes. Para os Estados Unidos, isso facilitará trazer, com custo baixo, energias eólica e solar produzidas nos desertos do oeste americano, como na Califórnia e em Nevada, para abastecer a Costa Leste.

Na Califórnia, já está instalada a Ausra, empresa que oferece uma tecnologia para resolver um problema antigo: armazenar energia solar. Para isso, usa espelhos que aquecem água em containeres para, em seguida, mover turbinas a vapor. Seu criador, David Mills, promete que, com uso de 10% do deserto de Nevada, será possível gerar 90% da energia consumida no país. Se estiver certo, a revolução está chegando. E rápido. Enquanto isso, analistas dizem que há 50 bilhões de dólares em capital pronto para ser investido em projetos de energia solar no deserto de Nevada.

Na Europa, existem idéias similares, como trazer energia geotérmica da Islândia, eólica de “fazendas de vento” no Mar do Norte ou energia solar produzida em áreas desérticas do Marrocos.

A smart grid ainda oferece outras vantagens. Quando um nó do sistema sofrer uma pane, ela será capaz de evitar apagões generalizados, mudando o caminho por onde circula a energia (self-heals). Será plug-n-play. Ou seja, ao invés da dependência de grandes usinas de energia que abastecem a rede toda, poderá, ao longo do caminho, usar pequenas usinas, abrindo mais espaço para energia eólica, solar e hidroelétrica. Essa flexibilidade facilitará também o uso variado da energia, como para o abastecimento de veículos híbridos, movidos a gasolina e baterias.

Para quem quiser saber mais, Alex Tabarrock reuniu boas informações veiculadas na Internet, como Smart Grid: put it to work, publicado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos,  Modern Grid Strategy, do National Energy Technology Laboratory, e a Smart Grid Newsletter.

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