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Fortalezas para periquito ameaçado

Formações de pedra e madeira em Quixadá, no Ceará, protegem o periquito cara-suja, espécie de que restam apenas 250 indivíduos.

Alberto Alves Campos · Ciro Albano · Weber Silva ·
26 de abril de 2010 · 15 anos atrás

Fotos: Ciro Albano

Foto 1 –Pedra da Galinha-choca, Quixadá, Ceará.

Em meio às vastas planícies do sertão cearense encontram-se estranhas formações rochosas que se destacam na paisagem tal como um arquipélago no oceano. Estas formações são denominadas inselbergues, também conhecidas como monólitos, e dominam a maior parte do município de Quixadá, incluindo uma rocha em formato de galinha choca que simboliza a região ( veja Foto 1 –Pedra da Galinha-choca). O termo inselbergue foi cunhado em 1900 pelo geólogo alemão Wilhelm Bornhardt (1864-1946), significando “ilha de pedra”, e desde então, estudos neste tipo de ambiente revelaram uma biodiversidade peculiar que vem sendo selecionada há milhares de anos por condições ambientais extremas.

No mesmo ano em que o termo inselbergue foi inventado, um periquito nordestino recebeu o nome Pyrrhura griseipectus pelo ornitólogo italiano Tommaso Salvadori (1835-1923), que o percebeu misturado com outra espécie semelhante nas gavetas de museus europeus, contudo, este material não tinha origem precisa. Sua procedência permaneceu desconhecida até os primeiros exemplares serem coletados em 1913 na serra de Baturité, também no Ceará, aonde a ave é conhecida popularmente como periquito cara-suja, sendo um refúgio de exuberantes florestas úmidas cercadas por vegetação seca (Foto 2 – Periquito cara-suja, Pyrrhura griseipectus).

Foto 2
Foto 4

As pesquisas sobre a biologia reprodutiva do cara-suja incluem a instalação de caixas-ninho que foram recentemente ocupadas, abrindo muitas possibilidades para o manejo natural, sem o uso de animais cativos que podem disseminar doenças (Foto 4 – Caixas-ninho com periquito). No início do projeto alguns moradores da serra de Baturité chegaram a duvidar que o cara-suja pudesse aceitar os ninhos artificiais, ou pior, que se fossem ocupados seriam pilhados por traficantes. Contudo, está acontecendo justamente o contrário. A sociedade local está animada com os resultados, existindo uma grande procura de caixas-ninho para instalação nos sítios. Periquitos cativos tem sido entregues voluntariamente ao Ibama e traficantes denunciados à polícia, um cenário diferente do encontrado anteriormente na região. O sucesso do projeto está acontecendo dentro e fora das caixas-ninho, com a reprodução assistida e apoio crescente da sociedade.

O nascimento dos primeiros filhotes na caixa-ninho foi emocionante para a equipe da Aquasis e para a família do microempresário Danilo, em cujo sítio ocorreu a esperada reprodução, justamente no mesmo dia em que foram fotografados e gravados os periquitos de Quixadá (Foto 5 – Filhotes do cara-suja no ninho artificial). Estas informações e todas as outras geradas nas pesquisas serão aproveitadas em uma parceria da ONG Aquasis com o ICMBio, que deverão produzir um plano de conservação para a espécie junto com representantes da sociedade em 2011.

Foto 5
  • Ciro Albano

    Ciro Albano é biólogo e trabalhou por anos em projetos de conservação de aves ameaçadas no Ceará. Hoje, atua como guia de obs...

  • Weber Silva

    Biólogo e doutorando pela UFC, fez mestrado em Biologia Animal na UFPE.

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Comentários 1

  1. Giovanna diz:

    Excelente texto e trabalho! Atualmente são conhecidas outras 03 populações, em tamanho menor que a da Serra de Baturité, e esta última tem crescido com o sucesso das ações da Aquasis!