O pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) é considerado uma das dez aves aquáticas mais ameaçadas do mundo. Estima-se que existam em torno de 250 indivíduos, sendo que a população mais conhecida se encontra na região da Serra da Canastra. Pouco se sabe a respeito da genética, ecologia, comportamento e cuidado parental, exceto o fato de que o pato-mergulhão é um bioindicador da qualidade da água dos rios onde habita. E só nos últimos anos, quando o mineiro Instituto Terra Brasilis optou por manter pesquisadores morando permanentemente na região da Canastra, que surgiu algum conhecimento mais consistente sobre a espécie. Agora imagine a honra de documentar esta ave durante mais de 4 anos consecutivos, colaborar para uma pesquisa de ponta e ver publicado, após tanto tempo de documentação, uma grande matéria na National Geographic, justamente numa edição especial sobre água (abril 2011).
Sabe-se que o pato-mergulhão é extremamente sensível a alterações ambientais como perda de mata ciliar, poluição das águas por agrotóxicos e assoreamento (problemas comuns na Canastra). Monogâmico, chega a ter até 8 filhotes por ninhada e sendo uma espécie nidífuga (abandona o ninho com os filhotes logo após o nascimento) fica suscetível a predadores como lontras, gaviões e pasmem, cachorros domésticos! Cheguei a fotografar uma família com 8 filhotes em seus 2 dias de vida e na semana seguinte, restavam apenas dois!
Além da pesquisa sobre a ecologia, identificação e distribuição de espécimes, por meio de um trabalho inédito de captura e colocação de anilhas e radio, os pesquisadores possuem uma ação intensa de educação ambiental com a comunidade. Segundo Lívia Lins, coordenadora do projeto, “A intenção é incentivar o envolvimento na proteção da espécie e mostrar aos vizinhos do pato-mergulhão que ele, tanto quanto todos nós, dependemos de água limpa para sobreviver. Estamos tentando fazer eles perceberem que preservar o pato é também garantir a pureza dos mananciais para abastecimento”.
Comecei a documentar periodicamente a Canastra em 1998, mas só há cerca de cinco anos que visitei a base do Projeto Pato Aqui, Água Acolá, em São Roque de Minas, propondo fotografar o tão lendário pato. Além de me deparar com a rotina árdua em seguir uma ave extremamente arisca, constatei como é a labuta na busca de financiamento para conservação de uma espécie, (o que para mim é um tanto incompreensível, já que o mais lógico seria justamente a facilidade em conseguir recursos para um fim tão nobre). Mais ainda, tive o privilégio não apenas de observar a espécie e registrá-la em momentos únicos, mas de me entregar numa ideologia a toda prova, de conviver com a dedicação imensurável dos pesquisadores na busca de alternativas que possam reverter um quadro tão obscuro para aquela ave. E a perceber, depois de tantos anos fotografando pesquisas pelo Brasil, que é justamente esta ideologia e dedicação de pesquisadores que motivam minha fotografia. E que todos os perrengues de campo e ‘bichos invisíveis’ que insistem em me conhecer por dentro, são facilmente resolvidos quando tenho a sensação que minhas imagens podem ajudar na conservação de alguma espécie e seu habitat. Hoje, mais do que nunca, eu dependo desta ideologia para continuar fotografando, tanto quanto uma imagem precisa de luz para existir.
Dentre milhares de cliques, entrego-lhes agora um pequeno slide show e um vídeo-documentário sobre meu trabalho fotográfico com o pato-mergulhão. Um vídeo dirigido com maestria por Marco Sarti e direção de fotografia de Danilo Padrin.
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