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2011: o ano em que faremos contato

No primeiro slideshow do ano, quero compartilhar fotos. Resultado de muito tempo de dedicação e persistência pelo interior brasileiro.

4 de janeiro de 2011 · 15 anos atrás
  • Adriano Gambarini

    Fotógrafo profissional desde 1991. Vencedor do Prêmio Comunique-se, é geólogo de formação, com especialização em história natural e espeleologia, autor de 20 livros e diretor de dezenas de documentários.

Chegamos no ano do Coelho, aquele em que no horóscopo chinês tudo será menos tenso, mais tranqüilo. Sem me aprofundar nos caminhos místicos (apesar de por vezes achar que é a única solução para os problemas ambientais), mas ao mesmo tempo valorizando a sabedoria milenar dos chineses, espero realmente que algo de bom, e grandioso, possa se materializar em nosso meio ambiente. Ano passado fui um tanto ausente nesta coluna, mas por uma simples razão – o excesso de viagem. Se contabilizar não dormi 40 dias seguidos na minha casa; durante todo o tempo estive em campo, fotografando, acompanhando expedições, perguntando, ouvindo, tentando entender a fumaça, as árvores deitadas, as voçorocas e as enchentes. E quando meus olhos tendiam ao lamento, minha teimosia dizia que ainda é possível reverter alguns processos, mesmo que em parte. Talvez seja ‘poliano’ da minha parte. O fato é que o pessimismo que assola o mundo moderno, e em parte como conseqüência de um jornalismo sensacionalista que atribui culpa humana a tsunamis, terremotos e vulcões, é um dos grandes males que emperram a reversão das coisas. Parece que o consenso de: “Já está ruim mesmo, então vou aproveitar o momento” cresce exponencialmente, e muito mais rápido do que as soluções.

Mas a natureza já deu provas suficientes que se adapta a qualquer alteração feita a ela mesma; obviamente tais adaptações muitas vezes tem conseqüências trágicas ao homem e suas concentrações urbanas, mas é uma simples lei física, ação e reação. Mas não uma ‘reação’ com atributos emocionais ou de julgamento; o conceito de bom ou mau é uma atribuição humana, não existe no âmbito natural. E se não existe, temos que olhar friamente para as situações, e se as eventuais soluções necessárias serão para prevenir ou remediar.

Temos que parar de julgar o predador e ter pena da presa. Quem não olha para a cena de uma caçada onde a chita corre em busca de seu alimento, e por um instante, que seja inconsciente, torce para a zebra escapar com vida? Sem ao menos pensar que a chita está ameaçada de extinção, enquanto a população de zebras cresce sem o menor perigo? Temos que parar de julgar o caboclinho que come um tracajá, e avaliar as conseqüências, para o tracajá, da barragem que inundará sua área de desova. Porque as conseqüências para o tracajá também serão para o caboclinho. Temos que olhar para o macro, focando no micro. A visão, neste mundo moderno, tem que ser em grande angular, mas com a opção de um teleobjetiva se necessária. Assim, neste primeiro slideshow de 2011 quero compartilhar fotos, simplesmente fotos, resultado de muito tempo de dedicação e persistência pelo interior brasileiro. Fotografia denúncia, deixarei para um outro momento…

Quero compartilhar o sensorial deste mundo maravilhoso. Afinal, se fiquei tanto tempo acumulando imagens e vendo tanta ‘coisa bunita di dá gosto!’, quero compartilhar, me sinto na obrigação de tal. Vamos novamente fazer contato com o otimismo que existe, ou está, latente dentro de nós.

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