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Taiamã, Dia 06: Onça é onça, e ponto final!

No sexto e último dia da expedição à Taiamã, a equipe se admira com a astúcia do maior predador das Américas. Veja fotos.

13 de outubro de 2011 · 14 anos atrás
  • Adriano Gambarini

    Fotógrafo profissional desde 1991. Vencedor do Prêmio Comunique-se, é geólogo de formação, com especialização em história natural e espeleologia, autor de 20 livros e diretor de dezenas de documentários.

Nesta semana, Adriano Gambarini acompanha a expedição à Estação Ecológica de Taiamã, no Mato Grosso. Ele conta aqui o dia-a-dia dos pesquisadores e o monitoramento das onças pintadas.

 

DIA 06

 

Foto: Adriano Gambarini
Foto: Adriano Gambarini
Hoje é o último dia de campanha. A noite anterior foi de muito investimento em reorganizar os laços. A camuflagem de plantas e galhos secam no decorrer dos dias, o que pode tornar o ambiente mais ‘artificial’. Assim, verificamos todos os laços para uma última tentativa. À medida que Rogério e Fred checam, já desativam os laços. Até que no quinto laço encontram sinais evidentes de que alguma onça passou por ali, cheirou, marcou o lugar…e foi embora. No laço seguinte…idem!

Num questionamento técnico, ficaram os dois confabulando o que poderiam ter feito de diferente para que o bicho tivesse uma atração maior pelo caminho onde estava o laço. Mas enfim, algumas idéias conjuntas, mas um veredicto que é unânime para quem trabalha com este felino: não é à toa que a onça é o maior predador do Brasil, topo de cadeia alimentar e o maior felino das Américas! Sua astúcia para se dar bem num mundo que oprime seu território cada vez mais, tem que ser cada vez maior também… princípio básico da sobrevivência. Boba é que ela não é!

Findado o trabalho de retirada dos laços, é hora de ir embora. Mas não antes dar um giro pela região; quem sabe uma onça não dá o ar da graça para nós? Demos a volta na ilha de Taiamã, seguindo pelo Rio Paraguai e Bracinho. Passamos pelo ponto onde os guias de pesca da região jogam peixe com freqüência, no limite da Esec, numa insana tentativa de cevar as onças para que turistas possam ver. Podem até conseguir tal feito, mas as conseqüências são incalculáveis, e no ano passado todos tivemos prova disto, quando uma onça atacou um turista dentro de um barco de pesca. Apos as apurações pelos pesquisadores do CENAP e Taiamã, confirmou-se que o ponto do ataque era justamente o mesmo lugar onde os guias estão cevando as onças.

Paramos no lugar e vimos rastros molhados de onça, ou seja, ela acabara de passar por ali!!! Daniel deu uma volta pelo mato e encontrou cabeças relativamente novas de peixe; ou seja, a ganância dos guias não tem limite, eles continuam a brincar com fogo. Seguimos inconformados com isto, com a fumaça que tornava a paisagem opressora, quando Fred comentou:

 

– É Gamba, acho que não foi desta vez que encontramos uma onça no barranco.
– Calma Fred, o dia não acabou… Retruquei.

 

Passados 10 minutos, de repente uma cabeça arredondada e imponente desponta na sombra da vegetação.

 

– Ali, ali, gritei! O Fred também viu quase no mesmo momento.

 

Lá estava ela, tranqüila, olhando o rio como um caboclo olha o movimento da rua numa cidade de interior, sentado à frente da sua casa. Lá estava ela, rainha das matas, calmamente lambendo suas patas como um indefeso gato num sofá de apartamento qualquer. Lá estava ela, serena, alheia à fumaça que alardeava um fogo sem propósito. Lá estava ela, imponente, mostrando que onça é onça, e ponto final!

Clique nas imagens para ampliá-las

 

 

 

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