
Sérgio Borges, ornitólogo da Fundação Vitória Amazônica (FVA), é um dos especialistas preocupados com o impacto das barragens na vida de pássaros brasileiros, especialmente daqueles que vivem em ambientes associados aos grandes rios da região Amazônica. “Para peixes, a hidrelétrica é uma ameaça mais óbvia. Porém, aves sedentárias que ocorrem em apenas um tipo de ambiente, que têm territórios restritos e pouca capacidade de deslocamento vão sofrer porque o habitat delas será afetado”, afirma.
A andorinha-de-coleira (Pygochelidon melanoleuca) é um exemplo. Com distribuição ampla, pode ser encontrada em várias regiões do país e, embora não esteja sob risco de extinção, pode sofrer com hidrelétricas, pois se alimenta e reproduz em ambientes muito específicos, como pedrais e cachoeiras. “São ambientes alagados durante uma parte do ano e disponíveis em outra época. Se este ciclo for perdido, o pássaro perde o habitat”, alerta o ornitólogo. Populações locais podem sofrer pesadamente com a construção de hidrelétricas.
A ameaça é mais grave se for levado em conta que entre populações supostamente da mesma espécie podem existir espécies diferenciadas, que simplesmente podem deixar de existir antes de serem mais bem conhecidas. É a situação da choca-preta-e-cinza (Thamnophilus nigrocinereus), que ocorre nas várzeas de rios da Amazônia. A subespécie do Rio Madeira, onde já estão sendo construídas grandes hidrelétricas (Jirau e Santo Antônio), têm características próprias. De acordo com Borges, pode ser um indício de que essa população de choquinhas pertença a outra espécie.
Não seria de surpreender. Existem casos numerosos de subespécies que, depois de realizados estudos mais profundos, foram reconhecidas como espécies diferenciadas. De acordo com Borges, existem atualmente 1.300 espécies de aves identificadas na Amazônia, um número que continua a crescer. Foi o caso dos jacamins, que foi reclassificado em mais espécies. “Não sabemos com quantas estamos lidando de fato”, diz ele.
Em um cenário em que todas as grandes sub-bacias da Amazônia já estão sob a mira da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), não se sabe o tamanho do estrago que as barragens podem fazer. “A várzea depende do rio, da sedimentação e da flutuação natural no nível da água. A gente não sabe em que escala uma hidrelétrica vai afetar esse ambiente, ainda mais quando se fala em várias hidrelétricas no mesmo rio”, adverte Borges.
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