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O encontro confirmou as suspeitas dos pesquisadores, que, dias antes, viram pegadas ao armar uma armadilha, indicando a presença de uma fêmea adulta e de um ou dois filhotes. Nessa espécie, os filhotes permanecem com a mãe aprendendo a caçar até pelo menos até os 18 meses de idade, quando então são expulsos para que procurem seu próprio território, ainda não ocupado por outra onça.
Nesta expedição, foram capturados também dois machos, que receberam colares. O maior deles, com 100 quilos, foi capturado na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Acurizal, da Fundação Ecotrópica de Apoio à Vida nos Trópicos, com sede em Cuiabá (MT). O segundo, um pouco menor, com 80 quilos, foi pego no mesmo local que a fêmea, no Parque Nacional do Pantanal.
No colar, os animais carregam um GPS e um transmissor de sinais via-satélite. Quatro vezes por dia, o aparelho registra as coordenadas geográficas do animal. Elas são transmitidas semanalmente a uma central, que passa as informações por e-mail aos pesquisadores. O projeto é uma parceria entre o Centro Nacional de Predadores (Cenap), o Parque Nacional do Pantanal, ambos do Instituto Chico Mendes, e a Fundação Ecotrópica, com patrocínio da Fundação Panthera, dos Estados Unidos.
Um dos objetivos principais desta campanha era recapturar uma fêmea que havia recebido o colar em julho do ano passado, mas que deixou de transmitir sinais em outubro. Apesar do aparelhamento dos três novos animais, essa fêmea não foi recapturada. Em setembro, a equipe deve voltar ao parque para mais uma vez tentar encontrar esta onça e dar a ela um novo transmissor.
No ano passado, além dessa fêmea, foi capturado também um macho, em más condições de saúde, nas proximidades da casa de um morador vizinho ao parque. Exames sanitários e amostras coletadas desse animal indicaram a possibilidade de toxoplasmose, possivelmente por contato com cães e gatos que ele ocasionalmente predava.
No final de agosto, os pesquisadores receberam sinal que indicava a morte desse macho. O corpo foi recuperado e ainda estão sendo feitos exames do material coletado, cujos resultados devem revelar informações importantes sobre problemas na interface entre animais domésticos e a fauna nativa no entorno de unidades de conservação.
Dois projetos de monitoramento da onça-pintada estão sendo realizados simultaneamente no Pantanal, em áreas quase contíguas. A Fundação Panthera comprou a fazenda São Bento, na margem esquerda do rio Cuiabá, no final da rodovia Transpantaneira. Lá, onde onças dividem o espaço com a pecuária, a pesquisa visa aprender como melhorar o convívio entre os predadores e o rebanho, desenvolvendo medidas que possam reduzir a predação do gado pelos felinos. Para isso, está sendo empregada a mesma metodologia e tecnologia usada no projeto no parque, coordenado por Crawshaw.
No Parque Nacional, criado há mais de 30 anos, as onças não precisam dividir espaço com os bois. Situado na parte mais profunda da bacia do Pantanal, onde ocorrem as maiores cheias, o parque é separado das RPPNs Acurizal e Penha apenas pelo rio Paraguai, e margeado pela Serra do Amolar, com montanhas de até 900 metros. Nesta região, o projeto estuda como as onças utilizam o gradiente entre as áreas alagadas e secas para sobreviver.
Crawshaw destaca que a fazenda Acurizal foi onde o doutor George Schaller, famoso zoólogo americano, iniciou o primeiro estudo da onça-pintada, na década de 1970. Schaller era auxiliado pelo então recém-formado Crawshaw.
Como as duas áreas estudadas, o parque e a fazenda S. Bento, são praticamente contíguas, os pesquisadores querem saber se os animais de um projeto podem ser encontrados em outro, especulando que os machos podem estar se dispersando.
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