Escândalos envolvendo os Calheiros não se bastam na esfera política. Na semana passada, equipes do Ibama se depararam com coronelismo em estado bruto durante uma operação de fiscalização no entorno da Reserva Biológica de Pedra Talhada (PE) e da Estação Ecológica Murici (AL), reduto eleitoreiro de Renan Calheiros.
Naquela região, denúncias de captura de aves silvestres, que abarrotam cativeiros ilegais, são comuns. Multa vai, multa vem, e os fiscais chegaram à casa da mãe do senador, onde mora o vice-prefeito de Murici, Remi Calheiros, irmão de Renan. Como a notícia de que os fiscais estavam nos arredores corre depressa, as equipes só conseguiram flagrar no local um sabiá, nove cutias e seis jabutis. O resto já tinha sido prontamente removido. Remi Calheiros tentou de tudo para se livrar da multa. Quis primeiro colocar a culpa em seu empregado, depois na própria mãe. Para tentar impedir a ação do Instituto Chico Mendes, Remi exigiu mandado judicial, mas se esqueceu que se tratava de flagrante. Ele tentou ainda alegar que não era responsável pelos animais, acusou o ICMBio de invasão de domicílio e resistiu à orientação que se dirigisse à delegacia, ameaçando chamar polícia, promotores e todas as autoridades do município. No final das contas, Remi foi levado à delegacia, recebeu multa de oito mil reais e assinou, a contragosto, termo circunstanciado por crime ambiental.
A Estação Ecológica Murici é o maior fragmento continuo de Mata Atlântica que restou em Alagoas, com míseros seis mil hectares, e atravessa um processo crítico de extinção em massa devido à restrição de habitat e as pressões de caça. Apesar disso, pesquisadores ainda se surpreendem com a existência de animais raros e ameaçados, como o macaco-prego-loiro e o mutum-de-alagoas.
Saiba mais:
Tristes trópicos de Murici – Fabio Olmos
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